Pra se acabar no chão.





terça-feira, 25 de maio de 2010

Versinho

Te adoro em segredo
pelo nós que não sonhas
É cedo.
Te amo em olhares
pelo nós que começa;
é doce e azul.
Te quero em ardência
de um nós descoberto
Desejo.
Te tento; e lamento:
o nós se esvai
com o tempo
Te falto sem importância
por hora.
Agora, te choro em segredo, é medo
O nós já passou.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Disritmia

Não sendo, apenas indo. O sol maltrata meus olhos, meu corpo, queima. Queima e ao mesmo tempo agrada. Agrada-me que eu ainda tenha forças para sentir o sol. Força apática, força passiva, uma força força. Decepção, talvez; não, era sonho; agora é sonho real, mas ainda é sonho. Parece brincadeira, mas é sonho. Parece distante o destino, sonho.
Escapa-me.
Fraqueza, força, força, impotência, fraqueza; perdido, já foi o tempo; danos, enganos.
Escapa-me.
Escapam-me a vontade, a ação, a coragem; cadê? Sonho.
Nostalgia, passado e futuro. O presente escapa-me (penso no que vou fazer amanhã, mas o agora me escapa). As chances me escorrem pelas mãos.
O que eu era, o que eu sou, quem quero ser? Não sei do que gosto (do que quero gostar?). Nada é certeza, tudo é sonho; sonho incerto.
É deserto dentro de mim e à minha volta, mancha de realidade, borrão, cinza. Muito cinza, pouca nitidez. Sede de querer. Eu quero, quero o quê? Maldita transitividade.
Pessoas com seus cotidianos medíocres; não sabem que eu não as vejo. Eu não as quero.
Nostalgia, passado, faltas, multas, muitas, muito, infinito. Quando? Perdido.
Apenas indo, embalada; no ritmo da vida, não sendo. Disritmia.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Manifesto superficial

A palavra de hoje é SUPERFICIALIDADE. Não sei o porquê. A gente estuda tanto a teoria que não se dá conta quando é vítima na prática. Descobri que fui comunicada.

(Andy Wahrol, o vanguardista da cultura pop, está em exposição aqui em São Paulo. Como quem não quer nada, espiei. A revolução de Wahrol não se dá pelas obras em si, mas pelo que elas profetizam: a mentalidade do século XXI.)

Wahrol: “Se você quer saber tudo sobre Andy Warhol, é só olhar para a superfície: das minhas pinturas, dos meus filmes e de mim, eu estou lá. Não há nada por trás disso.”

O que é a superficialidade da nossa era? Estamos numa época em que as pessoas não conseguem ser mais profundas (ou “não conseguem mais ser profundas”?). Desde o início de sua vida em sociedade o homem cria um personagem de si mesmo para apresentar aos outros. Mostra sua superfície, mostra sua casca, mas não se revela. Aos poucos, deixa emergir um pouco de si a uns poucos sortudos. Mas nunca se mostra como é a ninguém, nem a si mesmo.

Passou a acreditar tanto em sua máscara que perdeu a convicção de sua essência. Seus alicerces individuais começam a rachar, até que sobra uma poeira cinzenta de coletividade. Os outros nos amedrontam tanto que não queremos que eles nos conheçam (ou será que nós nos amedrontamos a nós mesmo?). Não entendo por que coletividade é sinônimo de superficialidade. Será que se nos revelássemos tais como somos seriamos incapazes de nos suportar, de conviver?

Reflexão, admissão. Sou superficial. Todos nós somos. E vivemos bem assim. A que ponto chegamos, não?