Pra se acabar no chão.





quinta-feira, 29 de abril de 2010

Aquela velha história

"Querem dividir o nosso Brasil", que pena. Também querem punir torturadores, e também querem dar terra a quem não tem terra, e também querem pensar na educação. Quanta bobagem.
Mais uma vez a classe média olha assustada para as promessas que podem tirar seu sossego. E mais uma vez nossos oportunistas camaradas estão logo ali, à direita, acalmando-a com sua mão mal lavada que dá muito, a quem menos precisa receber.


A UDN vibra em seu túmulo, satisfeita com a ressurreição de seu discurso.
Senta e espera.

terça-feira, 20 de abril de 2010

É só um pacote bêbado

Andando pela rua numa noite de domingo, precisava ir a algum lugar, mas não sabia onde, queria comprar pão, talvez, talvez não, talvez quisesse somente respirar, não respirava já fazia tempo. A mulher gritando em casa e as contas para pagar, a pasta embaixo do braço toda manhã parecia não resolver nada. Dobrou a esquina e pegou o trem, o trem não é um bom lugar pra respirar, definitivamente não, saltou na estação seguinte. Deu no centro da cidade, que porcaria, aquele centro sujo, outrora patrimônio histórico, hoje em dia é porcaria. Mas depois de tanto tempo nada mais lhe incomodava, não via comédia e nem tragédia em nada do que via, apenas não via, às vezes nem olhava.

Tropeçou num pacote. Parou. Parou e dessa vez olhou. Olhou de novo e dessa vez viu, porque o pacote se mexia. E porque ao redor do pacote tudo também mexia, e nada era pra mexer. Ao redor do pacote, tudo era pra parar. O movimento das coisas não parecia se importar com o pacote, nem o pacote com o movimento, nem o pacote com ele mesmo. O movimento importava-se só consigo mesmo. Talvez fosse esse o problema, pensou. Nenhum movimento nota o movimento do pacote. Talvez se o movimento parasse sua constante pressa para reparar no pacote, talvez se o movimento percebesse que o pacote também é parte do movimento, mas por algum motivo o pacote não está no movimento.

Olhou novamente, cutucou com o pé. Percebeu que o pacote assemelha-se a um ser, a um ser como ele. A face do pacote mostra toda uma vida, uma vida toda na qual nenhuma parte do movimento que desvia do pacote está interessada. Por sua mente operária passaram idéias, houve um tempo em que se falava em pacotes, mas depois isso calou. Depois, olhou o movimento. Houve um tempo em que o movimento não andava numa só direção, mas agora anda, não sabe explicar, sabe apenas seguir. E seguiu nele, deixou-se levar pelo fluxo. Afinal, aquilo era só um pacote bêbado.